O PREÇO DA LIBERDADE
- Dora Lacerda Soares
- 5 de dez. de 2019
- 2 min de leitura
Viver livre é muito fácil, certo? Basta se desapegar de tudo e de todos, pegar uma mala e sair pelo mundo, tendo novas experiências e vivendo uma vida de aventura. Só que não é bem assim…
Marcelo e eu temos dupla nacionalidade, brasileira e francesa. Depois de uma extensa pesquisa, chegamos à conclusão de que seria muito mais fácil pedir a residência portuguesa como franceses. Não precisa de visto e a burocracia é muito menor. De acordo com tudo o que lemos, bastaria ir à Loja do Cidadão da cidade onde está habitando e pedir a residência, cartão do cidadão, entrar no sistema da saúde português (que é ótimo) e pronto. Tudo resolvido! Entretanto, percebemos que o caminho é muito mais difícil. E por uma razão muito simples: não temos uma morada fixa. Não somos proprietários de um imóvel em Portugal, nem somos locatários de um apartamento, com contrato de aluguel para comprovar nossa residência. E mesmo sendo franceses e sendo membros da EU, com todos os direitos inerentes a essa condição, não podendo comprovar nossa residência anterior na França ou em algum outro país da EU. Só a nossa residência brasileira serve, fazendo com que tenhamos que passar por todo o processo de visto e entrada no país como brasileiros.
Explicamos para os órgãos envolvidos que nossa intenção era viver de apartamento em apartamento, de bairro em bairro, até conhecermos a cidade o suficiente para decidir onde fixar residência. Todos os AirB&B estavam reservados e pagos até o final do ano (chegamos em Portugal em janeiro), mas mesmo assim os órgãos governamentais não reconheciam nossa residência. Na verdade, nossa intenção é morar em AirB&B direto, sem contrato de aluguel, sem ter que se preocupar com condomínio, conta de luz, água, gás, etc. Sem ter que se preocupar se a internet funciona ou se aparece um vazamento. Isso tudo é de responsabilidade do proprietário do apartamento, que deve resolver tudo imediatamente. Para isso pagamos um preço maior para um AirB&B do que para um aluguel convencional. Queremos entregar a chave do apartamento ao final do prazo combinado (que pode ser curto ou longo) e pronto. Liberdade e mobilidade! Modernidade, na minha opinião. Da mesma forma como nossos filhos não querem mais comprar um apartamento, pois podem mudar de local quando quiserem, ou quando o mudarem de trabalho, ou quando mudarem os filhos de escola; da mesma forma como os jovens não compram mais carros, andando de Uber ou de outros meios de transporte, se livrando do alto custo fixo que é ter um carro e tendo mais mobilidade; dessa mesma forma queremos ficar absolutamente livres de qualquer vínculo com o local onde moramos. Parece simples e lógico, na minha maneira de ver, mas parece que o mundo não está preparado ainda para essa forma de pensar e de viver…
Por sorte, tenho um primo generoso que mora em Porto há mais de 30 anos e que se dispôs a dar uma declaração dizendo que moramos com ele. Esperamos que com isso consigamos a residência e tudo o que vem com ela.
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